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DEUS NÃO SE CANSA DOS NOSSOS RECOMEÇOS

01/05/2013 09:30

 

DEUS NÃO SE CANSA DOS NOSSOS RECOMEÇOS

Salmos 51.1-12

INTRODUÇÃO

Este lindo Salmo, trata de Davi, o grande rei de Israel, que viveu dias áureos, vendo o seu povo ser liberto para adorar a Deus com devoção.

Um homem que amava tanto a Deus que, antes de construir a sua casa, preparou tudo para erguer o majestoso templo de Jerusalém em dedicação a Deus.

Porém sucumbiu ao cobiçar e adulterar com Batseba, mulher de seu fiel general Urias e procurando reparar o seu erro, cometeu outro pior, mandando matar Urias, colocando-o a frente de uma batalha.

Mas a Bíblia diz que "o salário do pecado é a morte".

O filho do pecado morre e Davi cai em si, avalia o tamanho do seu erro, e perde a alegria e a paz.

Abatido, humilha-se diante de Deus.

Diante do arrependimento sincero e de sua humildade de coração, Davi é perdoado.

O Senhor lhe dá nova oportunidade.

 Neste Salmo, Davi retrata o anseio de cada um de nós que de alguma forma depois de um fracasso, um insucesso, deseja e busca um RECOMEÇO.

Billy Joell (cantor,compositor e pianista norte-americano) certa vez disse: “Minha teoria é a de que nossos erros são as únicas coisas originais que fazemos”.

Com certeza Billy está falando da fragilidade humana, da propensão do homem a cometer erros.

De fato a vida é feita de erros e acertos, de começo e recomeços, afinal, “atire a primeira pedra àquele que nunca errou”

Portanto poderíamos analisar: Em que se baseava o Recomeço de Davi?

 

 

 

 

I - ALICERÇAVA-SE NA MISERICÓRDIA E BONDADE DE DEUS. V. 1-2

 

Para que possamos recomeçar, nós precisamos entender antes de tudo a bondade de Deus e de que somos filhos desse Deus bondoso.

Deus nos ama sem medida – João 3.16     

Nunca devemos perder de vista nem o amor e nem a bondade de Deus.

Veja por exemplo o que diz o profeta Isaias a esse respeito – “Por isso, o Senhor esperará, para ter misericórdia de vós; e por isso se levantará, para se compadecer de vós, porque o Senhor é um Deus de equidade; bem-aventurados todos os que nele esperam”. – Isaias 30.18

 

Davi sabia que podia confiar na misericórdia e no amor de Deus. Veja o que ele escreveu em outro Salmo –“Assim como um pai se compadece de seus filhos, o Senhor se compadece daqueles que o temem. Pois ele conhece a nossa estrutura; lembra-se de que somos pó”. Salmos 103.13.

 

02 - Alicerçava-se no Reconhecimento do Estado de Pecado. V.3-5

 

Um dos maiores erros que tem levado os cristãos a uma autodestruição é a falta de reconhecer seu estado de pecador.

 

Alguém já disse: “Esquecemos facilmente os nossos pecados quando só nós próprios os sabemos".

 

Davi sabia que podia confiar na misericórdia e no amor de Deus e por isso mesmo além de reconhecer seus pecados os confessava diante de Deus. Veja o que ele escreveu em outro Salmo – “Confessei-te o meu pecado, e a minha maldade não encobri. Dizia eu: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a maldade do meu pecado”.Salmos 32.5

 

03 - Alicerçava-se na Certeza do Perdão de Deus. V.7-9

 

Nós devemos não só entender a bondade de Deus, mas devemos também acreditar nessa bondade. Devemos ter certeza do perdão de Deus em nossas vidas mediante a nossa confissão. É isso que Davi que passar.

 

Davi sabia que podia confiar na misericórdia e no amor de Deus e por isso mesmo além de reconhecer seus pecados os confessava diante de Deus, pois com isso, tinha a certeza do perdão de Deus. Veja o que ele escreveu em outro Salmo – “Por isso, todo aquele que é santo orará a ti, a tempo de te poder achar; até no transbordar de muitas águas, estas não lhe chegarão”.Salmos 32.6

 

04 - Alicerçava-se no Desejo de Mudança. V. 10-12

 

Confiar na misericórdia de Deus é bom. Reconhecer nossos pecados é melhor ainda. Ter certeza do perdão de Deus é excelente. Mas tudo isso juntos seriam insuficientes para um recomeço se não houvesse em Davi o desejo e a vontade de mudar.

 

Davi sabia que podia contar com Deus para que essa mudança acontecesse por isso ele implora de maneira insistente: - “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto”.

 

Esse desejo sempre houve na vida daqueles que desejaram recomeçar. Foi assim com Maria Madalena, a mulher Samaritana, Zaqueu, Paulo, e outros.

 

Conclusão

 

Quando o Confiar na misericórdia de Deus, o Reconhecer dos nossos pecados, a Certeza do perdão de Deus e o desejo de Mudar, se tornar na vida de cada crente, certamente acontecerá um Recomeço. E com ele também virá à alegria e o compromisso dom Deus e com as coisas concernentes ao Seu Reino – V.13-19.

PASSOS PARA O MILAGRE

Lucas 6:6-11

6 Ainda em outro sábado entrou na sinagoga, e pôs-se a ensinar. Estava ali um homem que tinha a mão direita atrofiada.

7 E os escribas e os fariseus observavam-no, para ver se curaria em dia de sábado, para acharem de que o acusar.

8 Mas ele, conhecendo-lhes os pensamentos, disse ao homem que tinha a mão atrofiada: Levanta-te, e fica em pé aqui no maio. E ele, levantando-se, ficou em pé.

9 Disse-lhes, então, Jesus: Eu vos pergunto: É lícito no sábado fazer bem, ou fazer mal? salvar a vida, ou tirá-la?

10 E olhando para todos em redor, disse ao homem: Estende a tua mão. Ele assim o fez, e a mão lhe foi restabelecida.

11 Mas eles se encheram de furor; e uns com os outros conferenciam sobre o que fariam a Jesus.

INTRODUÇÃO:

Muitas vezes temos áreas “mirradas” em nossas vidas, problemas que nos impedem de conquistar, que nos envergonham e entristecem e até limitam nossa relação com as outras pessoas.

Como esse homem da história bíblica, que tinha uma mão ressequida e precisava de um milagre, nós também às vezes precisamos.

Mas, como conseguir que Deus haja e libere as coisas que estão amarradas em nossas vidas?

I - VOCÊ PRECISA ESTAR NO LUGAR ONDE JESUS ESTÁ

– "Sucedeu que, em outro sábado, entrou ele na sinagoga e ensinava. Ora, achava-se ali um homem cuja mão direita estava ressequida" (v.6)

- Muitas pessoas buscam o milagre no lugar errado ou nem buscam.

Esse homem estava onde Jesus estava operando e por isso ele foi transformado.

E onde é que Jesus está?

Ele está no meio de pessoas que o buscam, que se reúnem em seu nome – a célula e a igreja (Mateus 18:20 - "Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles").

Não adianta o buscarmos no meio da idolatria (Isaías 42:8), ou em ambientes de pecado.

"Eu sou o Senhor, este é o meu nome; a minha glória, pois, não a darei a outrem, nem a minha honra, às imagens de escultura")

II - VOCÊ PRECISA VENCER TODO PRECONCEITO RELIGIOSO

– "Os escribas e os fariseus observavam-no, procurando ver se ele faria uma cura no sábado, a fim de acharem de que o acusar" (v.7)

Por incrível que pareça, a religiosidade é um dos maiores empecilhos para que as pessoas tenham uma experiência com Deus.

Esse homem, para ser curado, precisou enfrentar pessoas (religiosos que não queriam que ele abraçasse a fé e se tornasse um crente em Jesus)

E preconceitos (ideias religiosas distorcidas, que não tinham respaldo na Palavra de Deus).

Será que tudo o que você aprendeu sobre Jesus ou sobre Deus está na bíblia ou há muitas mentiras da religião?

– Veja Mateus 15:3 - Ele, porém, lhes respondeu: Por que transgredis vós também o mandamento de Deus, por causa da vossa tradição?".

III - VOCÊ PRECISA ASSUMIR PUBLICAMENTE A SUA FÉ EM JESUS

– "Mas ele, conhecendo-lhes os pensamentos, disse ao homem da mão ressequida: Levanta-te e vem para o meio; e ele, levantando-se, permaneceu de pé" (v.8)

– Às vezes queremos a bênção, mas não queremos assumir a nossa fé e obediência ao Senhor diante dos outros.

Temos receio de ser rejeitados, ridicularizados ou taxados como “fanáticos”.

No entanto, Deus só tem compromisso com quem assume compromisso com Ele – veja Mateus 10:32-33

- "Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus; mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus"

IV VOCÊ PRECISA TER CORAGEM E HUMILDADE PARA RECONHECER AS SUAS DEFICIÊNCIAS

– "E, fitando todos ao redor, disse ao homem: Estende a mão. Ele assim o fez, e a mão lhe foi restaurada" (v.10)

– Aquele homem só foi curado quando expôs a sua vergonha, o seu problema.

Da mesma maneira, quando chegamos à igreja, precisamos ser humildes o suficiente para permitir que nossos líderes e irmãos saibam as áreas que temos que mudar.

E assim, através do nosso quebrantamento e obediência, o Senhor nos transforme e mude o que é vergonhoso num grande testemunho.

veja Tiago 5:16 - "Portanto, confessem os seus pecados uns aos outros e façam oração uns pelos outros, para que vocês sejam curados.

“A oração de uma pessoa obediente a Deus tem muito poder”

CONCLUSÃO:

Vivemos um tempo em que os milagres têm acontecido em nossas reuniões, como prenúncio de um tempo de avivamento que está chegando,

porém, só serão alcançados aqueles que se dispuserem a assumir a sua fé em Jesus, e crer que o que há de mirrado e amarrado em suas vidas será transformado.

FUNDAMENTOS DA ÉTICA

26/04/2013 14:47

 

AULA – FUNDAMENTOS ÉTICOS


A palavra Ética é originada do grego “ethos”, que significa: “modo de ser, caráter”. No latim “mos” (ou no plural mores), que significa: “costumes”, derivou-se a palavra “moral”. Em Filosofia, Ética significa “o que é bom para o indivíduo e para a sociedade”, e seu estudo contribui para estabelecer a natureza de deveres no relacionamento indivíduo-sociedade.

Definimos “Moral” como “um conjunto de normas, princípios, preceitos, costumes, valores que norteiam o comportamento do indivíduo no seu grupo social”. “Moral” e “Ética” não devem ser confundidos: enquanto a moral é “normativa”, a ética é “teórica” e busca explicar e justificar os costumes de uma determinada sociedade, bem como fornecer subsídios para a solução de seus dilemas mais comuns. Porém, deve-se deixar claro que etimologicamente "ética" e "moral" são expressões sinônimas, sendo a primeira de origem grega, enquanto a segunda é sua tradução para o latim.

 

A HISTÓRIA DA ÉTICA

As doutrinas éticas fundamentais nascem e se desenvolvem em diferentes épocas e sociedades como respostas aos problemas básicos apresentados pelas relações entre os homens e em particular pelo seu comportamento moral efetivo. Vejamos alguns pensadores:

. Sócrates (470-399 a.C.) - Considerou o problema ético individual como o problema filosófico central e a ética como sendo a disciplina em torno da qual deveriam girar todas as reflexões filosóficas. Para ele ninguém pratica voluntariamente o mal. Somente o ignorante não é virtuoso, ou seja, só age mal, quem desconhece o bem, pois todo homem quando fica sabendo o que é bem, reconhece-o racionalmente como tal e necessariamente passa a praticá-lo. Ao praticar o bem, o homem sente-se dono de si e conseqüentemente é feliz.

. Platão (427-347 a.C.) - Ao examinar a idéia do Bem a luz da sua teoria das idéias, subordinou sua ética à metafísica. Sua metafísica era a do dualismo entre o mundo sensível e o mundo das idéias permanentes, eternas, perfeitas e imutáveis, que constituíam a verdadeira realidade. Para Platão a alma - princípio que anima ou move o homem - se divide em três partes: “razão, vontade (ou ânimo) e apetite (ou desejos)”. As virtudes são função desta alma, as quais são determinadas pela natureza da alma e pela divisão de suas partes. Na verdade ele estava propondo uma ética das virtudes, que seriam função da alma.

. Aristóteles (384-322 a.C.) - Não só organizou a ética como disciplina filosófica, mas, além disso, formulou a maior parte dos problemas que mais tarde iriam se ocupar os filósofos morais: relação entre as normas e os bens, entre a ética individual e a social, relações entre a vida teórica e prática, classificação das virtudes, etc. Sua concepção ética privilegia as virtudes (justiça, caridade e generosidade), tidas como propensas tanto a provocar um sentimento de realização pessoal àquele que age quanto simultaneamente beneficiar a sociedade em que vive. A ética aristotélica busca valorizar a harmonia entre a moralidade e a natureza humana, concebendo a humanidade como parte da ordem natural do mundo, sendo, portanto, uma ética conhecida como naturalista.

. O estoicismo e o epicurismo - Surgem no processo de decadência e de ruína do antigo mundo greco-romano. Para Epicuro (341-270 a.C) o prazer é um bem e como tal o objetivo de uma vida feliz. Estava lançada então a idéia de hedonismo que é uma concepção ética que assume o prazer como princípio e fundamento da vida moral. Mas, existem muitos prazeres, e nem todos são igualmente bons. É preciso escolher entre eles os mais duradouros e estáveis, para isso é necessário a posse de uma virtude sem a qual é impossível a escolha. Essa virtude é a prudência, através da qual podemos selecionar aqueles prazeres que não nos trazem a dor ou perturbações. Os melhores prazeres não são os corporais - fugazes e imediatos - mas os espirituais, porque contribuem para a paz da alma. Para os estóicos (por exemplo, Zenão, Sêneca e Marco Aurélio) o homem é feliz quando aceita seu destino com imperturbabilidade e resignação. O universo é um todo ordenado e harmonioso onde os sucessos resultam do cumprimento da lei natural racional e perfeita. O bem supremo é viver de acordo com a natureza, aceitar a ordem universal compreendida pela razão, sem se deixar levar por paixões, afetos interiores ou pelas coisas exteriores. O homem virtuoso é aquele que enfrenta seus desejos com moderação aceitando seu destino. O estóico é um cidadão do “cosmo” não mais da “pólis”.

. Cristianismo – Ele se eleva sobre o que restou do mundo greco-romano e no século IV torna-se a religião oficial de Roma. Com o fim do "mundo antigo" o regime de servidão substitui o da escravidão e sobre estas bases se constrói a sociedade feudal, extremamente estratificada e hierarquizada. Nessa sociedade fragmentada econômica e politicamente, verdadeiro mosaico de feudos, a religião garantia uma certa unidade social. Por este motivo a política fica dependente dela e a Igreja Católica passa a exercer, além de poder espiritual, o poder temporal e a monopolizar também a vida intelectual.

. Thomas Hobbes (1588-1679) - Consegue sistematizar esta ética do desejo, que existe em cada ser, de própria conservação como sendo o fundamento da moral e do direito. Para Hobbes, a vida do homem no estado de natureza - sem leis nem governo - era "solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta", uma vez que os homens são por índole: agressivos, autocentrados, insociáveis e obcecados por um "desejo de ganho imediato".

. Baruch de Espinosa (1632-1677) - Afirmava que os homens tendem naturalmente a pensar apenas em si mesmos, que em seus desejos e opiniões as pessoas são sempre conduzidas por suas paixões, as quais nunca levam em conta o futuro ou as outras pessoas. Essa tendência a conservação, à consecução de tudo que é útil é muitas vezes colocada na obra de Espinosa como sendo a própria ação necessitante da Substância Divina.

. Jonh Locke (1632-1704) - Atrela a tendência à conservação e satisfação à uma concepção de "felicidade pública". Dizia Lo à sociedade. A utilidade agrada porque responde a uma necessidade ou tendência natural que inclina o homem a promover a felicidade dos seus semelhantes.

. Jean Jaques Rousseau (1712-1778) – Para ele o homem é bom por natureza e seu espírito pode sofrer um aprimoramento quase ilimitado.

. Immannuel Kant (1724-1804) - Talvez a expressão maior da ética moderna tenha sido o filósofo alemão Kant. A sua maior preocupação com relação a ética era estabelecer a regra da conduta na substância racional do homem. Ele fez do conceito de dever ponto central da moralidade. Hoje em dia chamamos a ética centrada no dever de deontologia. Kant dizia que a única coisa que se pode afirmar que seja boa em si mesma é a "boa vontade" ou “boa intenção”, aquilo que se põe livremente de acordo com o dever. O conhecimento do dever seria conseqüência da percepção, pelo homem, de que é um ser racional e como tal está obrigado a obedecer o que Kant chamava de "imperativo categórico", que é a necessidade de respeitar todos os seres racionais na qualidade de "fins em si mesmo". É o reconhecimento da existência de outros homens (seres racionais) e a exigência de comportar-se diante deles a partir desse reconhecimento.

. Friedrich Hegel (1770-1831) - Pode ser considerado como sendo o mais importante filósofo do idealismo alemão pós-kantiano. Para ele, a vida ética ou moral dos indivíduos, enquanto seres históricos e culturais, é determinada pelas relações sociais que mediatizam as relações pessoais intersubjetivas. Hegel dessa forma transforma a ética em uma filosofia do direito. Ele a divide em ética subjetiva (ou pessoal) e em ética objetiva (ou social). A primeira é uma consciência de dever e a segunda é formada pelos costumes, pelas leis e normas de uma sociedade.

 . O alemão Karl Marx (1818-1883) - Também via a moral como uma espécie de "superestrutura ideológica", cumprindo uma função social que, via de regra, servia para sacramentar as relações e condições de existência de acordo com os interesses da classe dominante. Numa sociedade dividida por classes antagônicas a moral sempre terá um caráter de classe. Até hoje existem diferentes morais de classe e inclusive numa mesma sociedade podem coexistir várias morais, já que cada classe assume uma moral particular. Assim, enquanto não se verificarem as condições reais para uma moral universal, válida para toda a sociedade, não pode existir um sistema moral válido para todos os tempos e todas as sociedades.

 

ALTERNATIVAS ÉTICAS

Cada um de nós tem uma ética. Cada um de nós, por mais influenciado que seja pelo relativismo e pelo pluralismo de nossos dias, tem um sistema de valores interno que consulta (nem sempre, a julgar pela incoerência de nossas decisões) no processo de fazer escolhas. Nem sempre estamos conscientes dos valores que compõem esse sistema, mas eles estão lá, influenciando decisivamente nossas opções.

Os estudiosos do assunto geralmente agrupam as alternativas éticas de acordo com o seu princípio orientador fundamental. Vejamos algumas:

. Éticas Humanísticas - As chamadas éticas humanísticas são aquelas que tomam o ser humano como a medida de todas as coisas, seguindo o conhecido axioma do antigo pensador sofista Protágoras (485-410 AC). Ou seja, são aquelas éticas que favorecem escolhas e decisões voltadas para o homem como seu valor maior.

. Hedonismo - Uma forma de ética humanística é o hedonismo. Esse sistema ensina que o certo é aquilo que é agradável. A palavra "hedonismo" vem do grego “hdonh”, que significa "prazer". Como movimento filosófico, teve sua origem nos ensinos de Epicuro e de seus discípulos, cuja máxima famosa era "comamos e bebamos porque amanhã morreremos". O epicurismo era um sistema de ética que ensinava, em linhas gerais, que para ter uma vida cheia de sentido e significado, cada indivíduo deveria buscar acima de tudo aquilo que lhe desse prazer ou felicidade. Os hedonistas mais radicais chegavam a ponto de dizer que era inútil tentar adivinhar o que dá prazer ao próximo.

Como conseqüência de sua ética, os hedonistas se abstinham da vida política e pública, preferiam ficar solteiros, censurando o casamento e a família como obstáculos ao bem maior, que é o prazer individual. Alguns chegavam a defender o suicídio, visto que a morte natural era dolorosa.

. Utilitarismo - Outro exemplo de ética humanística é o utilitarismo, sistema ético que tem como valor máximo o que considera o bem maior para o maior número de pessoas. Em outras palavras, "o certo é o que for útil". As decisões são julgadas, não em termos das motivações ou princípios morais envolvidos, mas dos resultados que produzem. Se uma escolha produz felicidade para as pessoas, então é correta. Os principais proponentes da ética utilitarista foram os filósofos ingleses Jeremy Bentham e John Stuart Mill. A ética utilitarista pode parecer estar alinhada com o ensino cristão de buscarmos o bem das pessoas. Ela chega até a ensinar que cada indivíduo deve sacrificar seu prazer pelo da coletividade (ao contrário do hedonismo). Entretanto, é perigosamente relativista: quem vai determinar o que é o bem da maioria? Os nazistas dizimaram milhões de judeus em nome do bem da humanidade. Antes deles, já era popular o adágio "o fim justifica os meios". O perigo do utilitarismo é que ele transforma a ética simplesmente num pragmatismo frio e impessoal: decisões certas são aquelas que produzem soluções, resultados e números.

. Existencialismo - Ainda podemos mencionar o existencialismo, como exemplo de ética humanística. Defendido em diferentes formas por pensadores como Kierkegaard, Jaspers, Heiddeger, Sartre e Simone de Beauvoir, o existencialismo é basicamente pessimista. Existencialistas são céticos quanto a um futuro róseo ou bom para a humanidade; são também relativistas, acreditando que o certo e o errado são relativos à perspectiva do indivíduo e que não existem valores morais ou espirituais absolutos. Para eles, o certo é ter uma experiência, é agir — o errado é vegetar, ficar inerte. Sartre, um dos mais famosos existencialistas, disse: "O mundo é absurdo e ridículo. Tentamos nos autenticar por um ato da vontade em qualquer direção". Pessoas influenciadas pelo existencialismo tentarão viver a vida com toda intensidade, e tomarão decisões que levem a esse desiderato. Aldous Huxley, por exemplo, defendeu o uso de drogas, já que as mesmas produziam experiências acima da percepção normal. Da mesma forma, pode-se defender o homossexualismo e o adultério.

. Ética Naturalística - Esse nome é geralmente dado ao sistema ético que toma como base o processo e as leis da natureza. O certo é o natural — a natureza nos dá o padrão a ser seguido. A natureza, numa primeira observação, ensina que somente os mais aptos sobrevivem e que os fracos, doentes, velhos e debilitados tendem a cair e a desaparecer à medida que a natureza evolui. Logo, tudo que contribuir para a seleção do mais forte e a sobrevivência do mais apto, é certo e bom; e tudo o que dificultar é errado e mau.

. Éticas Religiosas - São aqueles sistemas de valores que procuram na divindade (Deus ou deuses) o motivo maior de suas ações e decisões. Nesses sistemas existe uma relação inseparável entre ética e religião. O juiz maior das questões éticas é o que a divindade diz sobre o assunto. Evidentemente, o conceito de Deus que cada um desse sistema mantém, acabará por influenciar decisivamente o código ético e o comportamento a ser seguido.

. Éticas Religiosas Não Cristãs - No mundo grego antigo os deuses foram concebidos (especialmente nas obras de Homero) como similares aos homens, com paixões e desejos bem humanos e sem muitos padrões morais (muito embora essa concepção tenha recebido muitas críticas de filósofos importantes da época). Além de dominarem forças da natureza, o que tornava os deuses distintos dos homens é que esses últimos eram mortais. Não é de admirar que a religião grega clássica não impunha demandas e restrições ao comportamento de seus adeptos, a não ser por grupos ascéticos que seguiam severas dietas religiosas buscando a purificação.

. A Ética Cristã - Á ética cristã é o sistema de valores morais associado ao Cristianismo histórico e que retira dele a sustentação teológica e filosófica de seus preceitos. Como as demais éticas já mencionadas acima, a ética cristã opera a partir de diversos pressupostos e conceitos que acredita estão revelados nas Escrituras Sagradas pelo único Deus verdadeiro. São estes:

a) A existência de um único Deus verdadeiro, criador dos céus e da terra. A ética cristã parte do conceito de que o Deus que se revela nas Escrituras Sagradas é o único Deus verdadeiro e que, sendo o criador do mundo e da humanidade, deve ser reconhecido e crido como tal e a sua vontade respeitada e obedecida.

b) A humanidade está num estado decaído, diferente daquele em que foi criada. A ética cristã leva em conta, na sistematização e sintetização dos deveres morais e práticos das pessoas, que as mesmas são incapazes por si próprias de reconhecer a vontade de Deus e muito menos de obedecê-la. Isso se deve ao fato de que a humanidade vive hoje em estado de afastamento de Deus, provocado inicialmente pela desobediência do primeiro casal. A ética cristã não tem ilusões utópicas acerca da "bondade inerente" de cada pessoa ou da intuição moral positiva de cada uma para decidir por si própria o que é certo e o que é errado. Cegada pelo pecado, a humanidade caminha sem rumo moral, cada um fazendo o que bem parece aos seus olhos. As normas propostas pela ética cristã pressupõem a regeneração espiritual do homem e a assistência do Espírito Santo, para que o mesmo venha a conduzir-se eticamente diante do Criador.

c) O homem não é moralmente neutro, mas inclinado a tomar decisões contrárias a Deus, ao próximo. Esse pressuposto é uma implicação inevitável do anterior. As pessoas, no estado natural em que se encontram (em contraste ao estado de regeneração) são movidas intuitivamente, acima de tudo, pela cobiça e pelo egoísmo, seguindo muito naturalmente (e inconscientemente) sistemas de valores descritos acima como humanísticos ou naturalísticos. Por si sós, as pessoas são incapazes de seguir até mesmo os padrões que escolhem para si, violando diariamente os próprios princípios de conduta que consideram corretos.

d) Deus revelou-se à humanidade. Essa pressuposição é fundamental para a ética cristã, pois é dessa revelação que ela tira seus conceitos acerca do mundo, da humanidade e especialmente do que é certo e do que é errado. A ética cristã reconhece que Deus se revela como Criador através da sua imagem em nós. Cada pessoa traz, como criatura de Deus, resquícios dessa imagem, agora deformada pelo egoísmo e desejos de autonomia e independência de Deus. A consciência das pessoas, embora freqüentemente ignorada e suprimida, reflete por vezes lampejos dos valores divinos. Deus também se revela através das coisas criadas. O mundo que nos cerca é um testemunho vivo da divindade, poder e sabedoria de Deus, muito mais do que o resultado de milhões de anos de evolução cega. Entretanto é através de sua revelação especial nas Escrituras que Deus nos faz saber acerca de si próprio, de nós mesmos (pois é nosso Criador), do mundo que nos cerca, dos seus planos a nosso respeito e da maneira como deveríamos nos portar no mundo que criou.

A ética cristã, em resumo, é o conjunto de valores morais total e unicamente baseado nas Escrituras Sagradas, pelo qual o homem deve regular sua conduta neste mundo, diante de Deus, do próximo e de si mesmo. Não é um conjunto de regras pelas quais os homens poderão chegar a Deus – mas é a norma de conduta pela qual poderá agradar a Deus que já o redimiu. Por ser baseada na revelação divina, acredita em valores morais absolutos, que são à vontade de Deus para todos os homens, de todas as culturas e em todas as épocas.

 

LIBERDADE E DETERMINISMO

 

Como se transforma a liberdade da atividade da atividade individual em determinismo social? A bola rolando, se tivesse noção do ato de rolar, pensaria que rola por sua própria vontade. Liberdade e livre arbítrio. A barreira e a fresta pela qual passa a corrente. Como imaginaria a correnteza o seu atravessar se tivesse consciência de seu ato. O arbítrio e os motivos. A luta entre os motivos. O motivo mais forte e a escolha. O caráter, a educação, as condições são que determinam a escolha. O determinismo dos atos humanos. Como se podem prever os atos. Como se podem saber os motivos? As causas principais da atividade humana. As divisões em classes e grupos e seus distintos e as vezes opostos interesses. Os interesses determinam os atos e os motivos. A sociedade e os interesses dos camponeses e dos senhores feudais. A sociedade burguesa, os interesses dos operários e capitalistas. A generalidade dos interesses-motivos e a semelhança com os atos dos indivíduos. A psicologia do homem é determinada pelo trabalho em todas as suas formas, as condições gerais de vida. Psicologia geral dos camponeses. Nuanças psicológicas internas. As psicologias internas. A psicologia da classe operaria e distintos grupos internos. Conhecendo a psicologia os interesses duma classe, podemos predizer os atos dos indivíduos que formam essa classe. O determinismo e resultado da atividade “livre”. Determinismo social e fatalismo. O determinismo social é uma arma da atividade humana; os atos livres são transformados em determinismo social.

Detivemo-nos na ultima lição na questão da liberdade e determinismo. O individuo, não obstante a dependência de sua psicologia de classe ou grupo, sente-se como homem livre, que tudo faz por sua própria vontade. E apesar disso, a vida da sociedade que é a soma dos indivíduos se realiza segundo certas leis determinadas. Surge portanto a seguinte questão: como se podem harmonizar liberdade e determinismo, segundo o qual se operam os fenômenos sociais.

Tentaremos gradualmente responder á pergunta formulada. Existe o homem com a sua atividade que brota de sua vontade? Assim pelo menos, explica ele suas ações. Donde vem esse sentimento de livre arbítrio, e como encaixá-lo no determinismo e na causalidade social? Se formularmos deste modo a questão poderemos achar a gênese da causalidade e do determinismo social.

Tomemos por exemplo uma bola à qual se deu um impulso e que começa a rolar. Imaginemos que a bola ficou rolando, ficou consciente do seu ato de rolar, sem saber para que foi impulsionada. Ela explicaria o seu rolar pela sua vontade livre. O mesmo se dá com a vontade livre do homem. O homem está consciente do ato que realiza, mas desconhece as causas que provocaram ou determinaram o ato. Assim responderam a questão, Hobes, Spinoza Leibnitz. A resposta porem não é completa: se a questão fosse somente da consciência do ato, talvez fosse muito fácil de solucionar. Mas se a questão da liberdade e determinismo, foi tão palpitante para os gênios filosóficos do passado e ainda até hoje não foi, para todos, solucionada, isto quer dizer que existe algo mais, a espera de solução.

A bola rola e pode ela gritar bem alto que rola por sua própria vontade mas, ela é obrigada a rolar sem poder parar. Mas outra coisa se dá com o homem. Este ao praticar um ato pode perguntar a si próprio: devo ou não praticar este ato? Já aqui existe um momento de escolha. A atividade do individuo é dessa forma, dependente de sua escolha. O homem ao praticar um ato está às vezes diante de um dilema, pode fazer ou de outro modo. Esse fato de escolher é fato que não pode ser negado nem evitado. Devido a este momento de escolha torna-se a questão da vontade livre mais fácil de resolver.

Continuemos porem a analise. Quando surge a pergunta: fazer ou não fazer, há naturalmente motivos para o sim ou para o não. Esse conflito de motivos termina pela vitoria de um deles, que determina a vontade do homem. Assim é que esse fato se dá realmente, na vida.

Tomemos por exemplo uma corrente de água, contra a qual se constrói uma barreira que detém a corrente. A água tem por habito correr e faz pressão contra a barreira. Na barreira, casualmente havia alguns pontos fracos, e finalmente a água irrompe por uma fresta que se havia aberto. Imaginemos que, de repente a corrente d’água se torna consciente não só do trabalho (ação) de correr (como aconteceu com a bola), mas também das aspirações de vencer a barreira. Encontrando o obstáculo desta, e forçando os pontos fracos, está a água diante do problema de encontrar a saída (a satisfação de seu desejo ou aspiração) que ela própria pode escolher. A corrente d’água, que fora dotada de certa consciência, encontrará na barreira um entrave, um obstáculo de um lado e por outro há uma vontade, uma aspiração de vencer esse obstáculo. A corrente de água quer continuar a sua obra de correr, não obstante o obstáculo encontrado. Trava-se aqui uma luta entre a corrente consciente com a vontade de correr e a barreira. A fresta por ela feita na barreira deixou passar a água. A corrente forçou a barreira toda, procurando saída em todos os pontos fracos que quis arrombar, mas somente conseguiu passar pela fresta que havia arrombado. Aqui tivemos o momento da consciência e o livre arbítrio.

A atividade humana é determinada por vários motivos. A força geral da inércia é a barreira. Os motivos da atividade são quase representados pela corrente que impele o homem à atividade. A fresta pela qual irrompe é este ou outros motivos que vencem. Uma vez que a corrente forçou todos os pontos e somente irrompeu pelo mais fraco ou no ponto onde a corrente é mais impetuosa, temos aqui uma certa escolha — livre arbítrio, quando todo o processo é iluminado pela consciência. Na realidade a irrupção é determinada ou pela fraqueza da barreira ou pela força da corrente em determinado ponto.

O momento de vitoria de um motivo sobre outro depende de uma serie de causas e a “vontade livre” desempenha aqui papel de somenos importância. Por exemplo: se tomamos um esfomeado, que passa diante de uma vitrine de comestíveis, dar-se-á nele uma luta dos motivos da fome com os das idéias de justiça: que não se deve desejar o alheio e do simples medo de furtar, porque será preso e punido, etc. O resultado dessa luta dependerá em certo sentido do caráter do homem, de sua educação, das condições de momento, etc. Nuns, os assim chamados conceitos morais serão mais fortes, devido à sua educação, conceitos enraizados, etc., noutros o medo do castigo é que determinará sua atividade, vencendo portanto, os outros motivos. Se colocarmos esse homem numa posição tal que seu ato possa passar despercebidos para todos, o instinto da fome será mais forte que o do medo e vencerá o primeiro motivo. Num terceiro pode sempre vencer o motivo da fome e ele roubará sem conflito interior. Vemos de fato que se dá aqui uma luta entre dois motivos. Vencendo o mais forte. Ao homem, porem, ao realizar seu ato, parece-lhe agir segundo sua livre vontade e escolha.

Esses exemplos nos esclarecem que todos os atos individuais são determinados por certos motivos. A atividade humana, os atos do homem social, são dessa forma predeterminados, são provocados por motivos. A necessidade histórica, isto é, a necessidade da atividade social humana é por isso chamada determinismo.

Mas se todos os atos são determinados por certos motivos, surge uma nova pergunta: podem ser previstos todos esses motivos, suas causas podem ser descobertas e explicadas?

Aqui teremos que voltar á questão da formação da psicologia de cada individuo e de distintos grupos. Vimos que na primeira fase da evolução econômica o homem não representa um individuo independente, mas é como membro de um rebanho, psicologicamente semelhante a todos os outros indivíduos da sociedade inteira. Havia naturalmente diferenças físicas; e se mais tarde puderam em certo grau criar-se pequenas diferenciações psicológicas, essas só puderam evoluir com a evolução da técnica e com o aparecimento da divisão social do trabalho. Com o desenvolvimento da técnica e com o aparecimento da divisão social do trabalho surgiram distintos grupos econômicos, os quais com o tempo formaram todas as diferenciações e contrastes psicológicos que mais tarde notamos na sociedade.

Tomemos a sociedade humana. Que notamos aí? Vemos homens com necessidades, aspirações e paixões e certas obrigações. Certas necessidades, aspirações e paixões são comuns a todos os homens, porque não se pode imaginar, por exemplo, uma sociedade que não necessite de meios de subsistência, de meios de procriação etc. Queremos prever a atividade do homem com exatidão, podemos dizer sem receio de errar que o homem, em geral, sempre aspirará a satisfazer suas necessidades vitais e por isso desenvolverá seus meios de luta contra a natureza — desenvolverá o trabalho e a atividade social. Mas como e de que modo satisfazem os homens suas necessidades? Aqui já não há mais generalidade. Na sociedade feudal, por exemplo, a maioria da sociedade é de camponeses; os camponeses como tais terão em qualquer tempo o mesmo modo de adaptação á natureza, por conseguinte, os mesmos modos de satisfazer suas necessidades. Todos os camponeses terão mais ou menos os mesmos interesses (pequenos traços característicos, não tem aqui importância alguma). A classe camponesa inteira representará um todo, uma unidade, com certos e determinados interesses, pelos quais poderá ser predeterminada a atividade de cada camponês (aspiração de se libertar do jugo feudal, livre locomoção, conseguir uma propriedade em terras, etc.). Tomando a classe feudal como tal, poderemos segundo seus interesses mais ou menos singulares também predizer a aspiração e atividade de cada senhor feudal (aumentar o seu domínio sobre as terras, ocupar um lugar superior na hierarquia do poder, limitar o mais que for possível o poder do rei, escravizar na mesma medida todos os camponeses, etc.). Tomando a sociedade contemporânea, também poderemos fazer o mesmo. Conhecendo os interesses de cada classe e até mesmo de cada grupo, não é, portanto, difícil predizer e determinar suas aspirações e suas atividades, bem como a dos indivíduos a ela pertencentes. A classe operaria como um todo, porquanto todos os operários se encontram em condições iguais, no sentido de que todos são obrigados a vender o seu trabalho, terá interesses gerais cuja expressão consiste na aspiração de aumentar o salário e diminuir a exploração. A classe capitalista, não obstante as divergências internas, também apresentara uma aspiração geral, como em tudo, determinada por interesses, que estarão diametralmente opostos aos interesses da classe [operária] e terá sua expressão na aspiração de diminuir o salário dos operários e aumentar a exploração. Nessa direção determinada irá também a atividade dessas classes na sociedade capitalista.

Vemos, portanto, que podemos predeterminar a direção que tomará a atividade dos vários grupos sociais. Porque conhecemos de antemão os motivos de sua atividade. Mais ainda, conhecemos as causas pelas quais os motivos são determinados — conhecemos os interesses.

Vemos, portanto, que a pergunta: o que determina a psicologia? Deve ser respondida: o trabalho em todas as suas formas, que cria finalmente as condições gerais da vida. Estando a maioria dos camponeses nas mesmas condições de trabalho terão por isso a mesma psicologia, embora entre os camponeses possa haver uma certa diferenciação, isto é, certa parte dos camponeses começarem a viver em outras condições de trabalho — isso porem não passará de uma nuança especial na psicologia dos camponeses. O modo geral da psicologia camponesa será expressa, por exemplo, no apego à terra, sentimento de dependência da natureza, amor ao trabalho e à propriedade, conservantismo de seus costumes e limitação em seu modo de viver. O camponês diferenciado (o rico, o kulak) também estará debaixo da psicologia geral, possuindo, a par disto, uma nuança psicológica, como o desejo de aumentar suas terras, aspiração a riqueza, à exploração, etc. O mesmo se dá com a classe operaria. Também ele terá uma psicologia geral e nuanças das camadas diferenciadas, como operários aristocratas, funcionários, especialistas, etc. Quanto mais constatamos, que a psicologia é determinada pelas condições de vida (trabalho) de dado individuo e que a generalidade da psicologia de diversos indivíduos que vivem em condições econômicas idênticas, forma a psicologia de classe, tanto mais podemos prever a atividade desta ou daquela classe e na maioria dos casos a atividade individual de seus membros.

Assim, vemos como a questão da liberdade e determinismo é resolvida graças a termos achado os motivos da atividade humana, e a chave da previsão desses motivos. E também, porque conhecemos as causas dos motivos, a fonte de onde emanaram. Não falamos aqui, por isso da atividade individual como tal, mas da necessidade, segundo a qual a maioria duma classe deve manifestar sua atividade, e somente por isso podemos prever e adaptar a atividade duma classe ás suas necessidades.

Está claro que a necessidade histórica não exclui a “livre” atividade humana, mas ao contrario é ela o resultado dessa atividade “livre”. É nisso que consiste a grande diferença entre o determinismo na natureza e o determinismo na vida social e na historia. O determinismo na natureza consiste em que vários fenômenos resultantes de leis naturais (movimento dos planetas, as estações do ano, eclipses solares, etc.) devem realizar-se na natureza. A ciência os pode prever, indicar o tempo em que se darão, mas o homem não tem no desenvolvimento deles nenhuma participação. Se o que se passa na vida social fosse um determinismo do mesmo caráter, o determinismo social se transformaria em fatalismo. Entre o determinismo social e natural há pois, uma grande diferença. Essa diferença consiste em que na natureza tudo se realiza fora de nossa influencia e atividade, ao passo que o determinismo social graças à nossa atividade.

As leis do determinismo social são, por isso, também as leis da atividade humana. O determinismo social implica a atividade humana como um de seus elementos necessários. Excluindo esse elemento não haverá determinismo histórico. Se excluirmos, por exemplo, o proletariado combativo da sociedade capitalista, não haverá então determinismo histórico do socialismo. Está claro que o proletariado não surgiu do nada — é conseqüência determinada pelo desenvolvimento da técnica — mas esta ultima também é revelação da atividade humana.

Todo o determinismo social consiste na atividade humana; seu material é um tecido de atividades humanas. A atividade, porem, é determinada, porque, devido às condições econômicas objetivas, os motivos da atividade são também determinados; as próprias condições econômicas são também o resultado do estado da técnica — da atividade humana condensada. As leis da evolução social são expressões das leis da atividade humana. Podendo prever os atos humanos, isto é, a atividade social, podemos também estabelecer a marcha da evolução social e agir no sentido em que ela se deve realizar.

 

Hoje não se pode pensar a ética só em referência à biologia e à psicologia. É um primeiro passo. Certamente este abrirá a outros campos implicativos do homem e da sua relação.

A dignidade humana é a raiz, ou deve ser, o fundamento de todo o direito e de toda a ética. As ciências, as técnicas, as filosofias e as teologias devem ter sempre presente a vida humana no seu todo e não parcelá-la de modo a destrui-la, julgando que estão a fazer o seu trabalho. Há que criar não a interdisciplinaridade mas sim a transdisciplinaridade, ao colocar em diálogo estes vários saberes humanos quando refletem a vida humana e o seu relacionamento com toda a espécie de vida. O que podemos pensar de tudo isso?

 

 

 

 

 

Professor Mestre Alcemir Pinheiro Ribeiro

Filosofia